13/10/2017 - Avaliação em longo prazo por taxas de capturas em pescaria costeira não letal. Leia mais. ↓
Tendências na abundância de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) avaliadas em longo prazo por taxas de capturas em pescaria costeira não letal
Long-term trends in abundance of green sea turtles (Chelonia mydas) assessed by non-lethal capture rates in a coastal fishery Berenice M.G. Silva, Leandro Bugoni, Bruno A.D.L. Almeida, Bruno B. Giffoni, Fernando S. Alvarenga, Luciana S. Brondizio, J. Henrique Becker.
Historicamente, as populações de tartarugas marinhas vinham sofrendo drástico declínio em função da coleta de ovos e matança de fêmeas adultas em praias de desova, dentre outras ameaças. A redução destas ameaças, em muitos locais como resultado dos esforços de conservação, tem revertido o cenário, mostrando encorajadora recuperação de algumas populações, mesmo com o crescimento de novas ameaças, especialmente a captura incidental por diversas pescarias e a poluição dos mares.
Tendências em populações de tartarugas marinhas normalmente são avaliadas a partir do monitoramento de fêmeas em áreas de desova, quando estas saem do mar para depositar os ovos na praia, facilitando a quantificação de registros.
Neste artigo, publicado no periódico científico Ecological Indicators, apresentamos uma forma para quantificação desses animais em sua fase juvenil e possível avaliação do estado de conservação a partir das capturas incidentais em cercos flutuantes, um tipo de pescaria passiva e não letal para as tartarugas praticada em Ubatuba, litoral norte de São Paulo.
Ao longo de 22 anos de monitoramento dos cercos, o TAMAR em Ubatuba registrou a captura incidental de 3.639 tartarugas, em 5.323 lances de pesca. A mortalidade média verificada foi de 2%, muito pequena comparada a outras formas de pescarias com redes. As capturas foram registradas durante todo o ano, embora a pesca com cercos raramente seja praticada no inverno, em função das condições adversas do tempo.
No início do monitoramento, em média, uma tartaruga era capturada a cada 5 dias de pesca. Passados 22 anos, hoje os cercos capturam, em média, uma tartaruga a cada dois dias de pescaria. Uma análise como esta só é possível, pois os cercos flutuantes não mudam o formato, nem o tamanho das redes, nem o jeito de pescar. Também não mudam os lugares de pesca que são os mesmos locais tradicionais há mais de 50 anos. Além disto, os cercos tem mínima taxa de mortalidade para as tartarugas. Outras pescarias mais impactantes, e que alternam os locais de pesca, dificilmente poderiam resultar em análises como esta.
A pesquisa mostrou um crescimento nas taxas de captura durante os meses de setembro e outubro, provavelmente em função da chegada de novos indivíduos provenientes de áreas oceânicas e/ou de regiões mais ao sul do país. Nesta mesma época, o tamanho das tartarugas capturadas tende a ser menor, indicando que se tratam de espécimes mais jovens. As análises confirmaram, portanto, o aumento do número de tartarugas juvenis que frequentam esta importante área de alimentação para a espécie Chelonia mydas.
O trabalho de conservação e pesquisa direcionado à interação das tartarugas marinhas com a pesca em Ubatuba foi iniciado em 1990, com um levantamento que identificou as diversas modalidades de pesca que capturam tartarugas incidentalmente no município. Pouco a pouco, foi estabelecida uma parceria com os pescadores artesanais locais, que voluntariamente passaram a informar o TAMAR sobre as capturas de tartarugas e sobre o funcionamento das pescarias. A coleta das informações que subsidiaram essa pesquisa é fruto dessa parceria, bem como o salvamento de mais de 11.000 tartarugas capturadas incidentalmente na pesca, nestes 27 anos de existência do TAMAR em Ubatuba.
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