21/10/2017 - Nutrientes, energia, relações entre a fauna e o ambiente de praia. Leia mais. ↓
How turtles affect beaches
By Ronel Nel, Diane Le Gouvello, Linda Harris and Karien Bezuidenhout, Volume XII, SWOT The State of the World´s Sea Turtles - special feature Africa, 2016-2017.
Cada vez mais, a atenção dos pesquisadores tem se voltado para uma visão ecossistêmica. Em vez de concentrar o estudo em uma única espécie, o desafio tem sido focar na rede de conexões entre os organismos e o fluxo de energia entre eles. Poucas pesquisas ainda têm se dedicado a descobrir a interdependência que os ambientes de praia possam ter com as tartarugas marinhas.
Uma pesquisa na Africa do Sul identificou elementos presentes na areia e verificou o quanto os nutrientes trazidos pelas tartarugas marinhas, através de ovos e filhotes, são utilizados pela fauna associada ao ambiente de praia.
Os resultados mostraram uma forte e direta correlação entre nutrientes trazidos pelas tartarugas e a meiofauna que vive na areia. Diversos animais incorporaram nutrientes originários das tartarugas em sua dieta. O estudo indicou que o incremento de nutrientes é de curta duração e seu aproveitamento é rápido, os ninhos que nascem ou quando são predados parecem ser processados em um intervalo de dez dias.
Relações em cadeia - Em zonas temperadas é bastante conhecida a corrida dos salmões rio acima, momento em que os ursos acordam da hibernação e, juntamente com uma série de outros organismos, deleitam-se com a fartura que a chegada dos peixes proporciona. Os salmões vêm do oceano e trazem nutrientes de muito longe, fecundando ambientes terrestres, de água doce e costeiro, ao longo do caminho de suas migrações.
O mesmo processo ocorre com as tartarugas marinhas. As desovas criam um grande incremento de energia nos ambientes de praias pobres em nutrientes e com pouca vegetação, como mostra a pesquisa. Os ninhos depositados pelas fêmeas na areia são importante fonte de carbono e nitrogênio para as praias e dunas. Muitos são os animais que se alimentam de ovos e filhotes de tartarugas, desde vertebrados (répteis, aves e mamíferos) até invertebrados maiores, como os caranguejos. Animais mínúsculos (meiofauna) que circulam entre os grãos de areia, como nematódeos, além de micróbios e bactérias, processam esses nutrientes liberando-os para águas subterrâneas, que posteriormente lixiviam para ambientes próximos.
Filhotes de tartaruga marinha recém-nascidos.
As informações de estudos como este têm fortes implicações para a conservação, pois programas conservacionistas avidamente protegem os ninhos para garantir a produção natural de filhotes e o caminho seguro até o mar. A proteção é compreensível por uma série de razões, desde o ciclo de vida longo dos animais, levando de 20 a 30 anos para reproduzir, até as populações ameaçadas por altas taxas de mortalidade, especialmente as tartarugas que ainda não chegaram à idade adulta.
Em praias preservadas, onde a interferência humana é mínima e as populações já atingiram seu potencial de recuperação para cumprirem seu papel ecológico original com segurança, a predação natural deve ser reconhecida também como um processo importante do ecossistema e deve seguir seu curso sem interferências. A natureza é equilibradamente sábia. É fundamental que as interações entre as espécies possam ocorrer para o bem da saúde do ambiente como um todo.
Equipe de Pesquisa discute prioridades de ações da Fundação Projeto Tamar
Projeto TAMAR: Manejo Adaptativo na Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil
No mês das crianças, que tal se aproximar das tartarugas marinhas?
Celebração da Oceanografia: Homenagem e Inovação em Prol da Conservação Marinha